sábado, 19 de novembro de 2011

Crime sem castigo no Marajó.


Mulheres marajoaras são traficadas debaixo dos narizes oficiais e viram escravas sexuais fora do País. Esta foi a estarrecedora constatação que os deputados estaduais Edmilson Rodrigues (PSOL), Carlos Bordalo (PT) e Edilson Moura (PT), da CPI do Tráfico Humano, fizeram ontem em audiência pública na Câmara Municipal de Breves. Depoimentos confirmaram que, atraídas com promessas de emprego, as jovens são levadas para Macapá (AP) e de lá para o Caribe. Hoje, a CPI trabalha em Curralinho, e amanhã em Portel.

A exploração sexual de crianças também foi tratada na audiência. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Luiz Carlos, revelou que  meninas entre 11 e 15 anos de idade, cujas famílias vivem em condição de miséria, se prostituem em troca de óleo diesel. Quanto mais jovem é a criança, mais diesel ela recebe. Ele relatou que, muitas vezes, os próprios familiares das vítimas conduzem a negociação, que pode angariar entre 10 e 40 litros de diesel. A clientela é formada, principalmente, por usuários de balsas e navios que frequentam o lugar com destino a Manaus, Macapá e Santarém. O combustível é usado nas embarcações das famílias das crianças e adolescentes para pesca e transporte.

"O Estado não combate esse tipo de crime. A pobreza leva meninas que mal tiveram tempo de conhecer o próprio corpo a se prostituir", criticou o sindicalista.

O deputado Edmilson Rodrigues cobrou políticas públicas para o enfrentamento da pobreza no Delta do Amazonas: "Essa situação é degradante e gera sequelas irreparáveis psicologicamente e fisicamente, como doenças e gravidez indesejada".

A Irmã Rita Raboin, da Congregação das Irmãs de Notredame, que atua no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó, confirmou a relação estreita da exploração com o tráfico.

A defensora pública Úrsula Mascarenhas disse que é impossível acompanhar todas as violações de direitos que ocorrem nos 17 municípios do Marajó: a instituição só tem dois representantes no arquipélago. "O tráfico é uma chaga social que não cicatriza, no Marajó", destacou, informando que a sexualidade precoce no lugar, a partir dos 11 anos de idade, é comum. As meninas sofrem violência sexual com e sem consentimento e, muitas vezes, com a conivência da família.
A ausência de uma rede de proteção à criança e adolescente ajudam muito a aumentar o tráfico e incentivam a prostituição. Falta a presença do Estado para proteger a criança e adolescente, falta estrutura humana e material.  O comandante do policiamento de Portel informou que, nas ocasiões em que o Exército Brasileiro faz operações naquela cidade, a prostituição aumenta sobremaneira por conta dos combatentes do Exército em procurar por este serviço”, denunciou o deputado Carlos Bordalo.

Fonte: Blog da Franssinte Florenzano