Feito desgosto de filha…
O jornal “Diário do Pará”, edição de hoje (21) escreve uma manchete digna da imprensa nacional: “Izabela Jatene: ‘vamos começar a buscar esse dinheirinho deles’”.
O texto revela uma gravação na qual Izabela Jatene, filha do governador do Pará, Simão Jatene, dialoga com Nilo Noronha, subsecretário de Receitas da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa):
“Nilo: - Oi Izabela.
Izabela: - Oi Nilo, tudo bom, meu irmão? Pode falar rapidinho?
Nilo: - Posso, eu tô aqui com o Dr. Ricardo Souza.
Izabela: - Ah é? Diga que eu mandei um grande abraço pra ele. Que eu desejo tudo de bom e que é pra ele falar pouco.
Nilo: - As melhoras da gripe dele...
Izabela: - É. O doutor mandou ele calar a boca, pra parar de ficar rouco... Nilo, tu consegues pra mim a lista das trezentas maiores empresas do Estado?
Nilo: - Consigo.
Izabela: - Consegue? Manda pro meu e-mail?
Nilo: - Mando sim.
Izabela: - Pra gente começar a ir buscar esse dinheirinho deles, né?
Nilo: - Claro, qual é teu e-mail?”
Não se avexem: crimes contra o erário ocorrem com naturalidade mesmo, pois o patrimonialismo da cultura política nacional está tão alicerçado que quem o rumina não se apercebe da contumácia.
O bizarro diálogo, por suposto, ocorreu há três anos, meses depois de Jatene tomar posse como governador do Pará - com aquele discurso de educação moral e cívica - e foi receptado pela Polícia Civil, que investigava o sequestro de um empresário, ocorrido em 31 de março de 2011, no município de Mãe do Rio.
Na esteira das investigações, a Justiça autorizou o grampeamento do telefone de Gilson Silva, um dos suspeitos e gerente da fazenda do subsecretário. Quando Nilo recebeu uma ligação do seu gerente, automaticamente o seu telefone entrou no rastreamento. E foi assim que o Guardião, flagrou a própria filha do governador no iter criminis da extorsão.
Segundo o “Diário do Pará”, quando as gravações foram transcritas e se descobriu a gravidade de um dos diálogos “foi montada uma operação abafa, orquestrada por toda a cúpula do Sistema de Segurança Pública do Pará, para proteger a filha do governador”, o que teria culminado com a ordem de “apagar a gravação e destruir a transcrição.”.
Se assim ocorreu, o Estado eventualmente se transformou, tanto ao cabo quanto ao rabo, em um desfile de delinquenciais, e no dia seguinte à publicação de tal escândalo, em um país sério, o governador renunciaria.
Mas flagrante de tamanha envergadura jamais é apagado sem antes ser copiado, e como a oportunidade é siamesa da ocasião, o evento foi zelosamente guardado por quem o “apagou”.
O diálogo revela um eufemismo: dos trezentos maiores contribuintes do Estado não se busca “o dinheirinho”, pois eles amoedam muito mais a cargo do erário do que o diminuitivo empregado, portanto, ao garimpar nessa cava, a bateia não traz pouca monta.
A revelação coloca o governador Simão Jatene ao chafurdo de uma lama que ele hipocritamente combate, caindo-lhe bem o chiste do poeta russo Aleksandrovich Yevtushenko, que afirmou que “o verdadeiro hipócrita não é o que dissimula, mas o que tenta persuadir os outros àquilo que ele não pratica”.
Algum procurador vai pedir o afastamento do governador do Estado e a prisão temporária da senhora Izabela Jatene para que ambos não intercedam na investigação que poderia ser aberta para apurar o crime, como se faz com os delinquentes da plebe rude?
Fonte: Blog do Parsifal 5.4
http://pjpontes.blogspot.com.br/
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