sábado, 26 de março de 2011

NOTA DE ESCLARECIMENTO DO SINTEPP AO POVO MARAJOARA


A população de Curralinho, uma das cidades mais pobres do Marajó e do Pará, enfrenta, diariamente, graves problemas na saúde, na educação, na segurança e em todos os serviços públicos. O poder municipal sempre alegou falta de verbas para justificar o caos. Foi com surpresa que recebemos a notícia de que um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) aponta que R$ 9,7 milhões de verbas federais foram gastos pelo prefeito sem a menor comprovação. Destes R$ 8 milhões seriam de verbas destinadas à educação e R$ 1,7 milhão são da área da saúde.
Diante dessa imoralidade administrativa alguns vereadores propuseram que a Câmara Municipal investigasse o caso, mas uma manobra da maioria, que apóia o prefeito Miguel Santa Maria (PSDB), impediu a apuração dos fatos. A população, indignada, passou a manifestar-se contra a decisão da câmara municipal.
O prefeito, em entrevista ao portal ORM e à TV Liberal, alegou que “...acontecia uma paralisação de servidores da educação do município. Os servidores estavam próximos a Câmara e, um deles pegou o microfone e começou a falar mal da minha administração e incentivou que tanto os professores, quanto pessoas que estavam por lá, agissem com vandalismo...”.
Diante dessas acusações inverídicas o SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO PÚBLICA NO PARÁ – SINTEPP, vem a público esclarecer que:
1- Os trabalhadores em Educação ligados ao SINTEPP estão em Greve por tempo indeterminado em função do não cumprimento de acordos realizados entre SINTEPP e PREFEITURA;
2- No dia 25/03 (6ª feira) estávamos em Audiência de negociação com a prefeitura. O prefeito não estava presente porque, segundo sua assessoria, estava em audiência na FUNASA. Mas, na citada entrevista o mesmo disse que estava em Belém cuidando do pai doente, caindo em flagrante contradição;
3-     Quando Informados do tumulto na Câmara Municipal a negociação SINTEPP/PMC, que ocorria na sede da prefeitura, foi interrompida e remarcada para 16:00h. Os diretores e filiados do SINTEPP foram para a frente da Câmara Municipal, onde populares estavam reunidos protestando em função da não aprovação da Comissão de Investigação de Desvio de Recursos do Município.
4-     O dirigente do SINTEPP ao usar da palavra, falou de sua indignação com a postura dos vereadores em não assumirem seu papel constitucional de fiscalizar o poder local, mas em nenhum momento incitou a população a depredar o patrimônio público;
Neste sentido não aceitamos que os trabalhadores em Educação sejam responsabilizados pelo ocorrido. Queremos que o Prefeito Miguel Santa Maria que já assumiu publicamente que: “A gente errou! O problema é que confiamos nas pessoas sem esperar que elas nos tragam problemas”, venha a público dizer quem são os responsáveis pelos desvios de recursos. Queremos que ele diga quais providências foram tomadas a fim de penalizar os verdadeiros marginais.
Por último, não iremos permitir que o nome do SINTEPP e de seus dirigentes sejam criminalizados, queremos saber quem são os membros da quadrilha que saqueia os cofres públicos, que frauda licitações; frauda empréstimos consignados, contra cheques; que frauda a folha de pagamento que não repassa o desconto dos servidores  ao Instituto de Previdência?? Não aceitamos que os criminosos saiam como vítimas pelos crimes que cometeram e a população como vilã.



Randel Sales Monteiro e Paulo Silva Junior
Coordenadores da Subsede

sexta-feira, 25 de março de 2011

Situação em Curralinho




A situação em Curralinho continua tensa, segundo informações de alguns moradores, a polícia esta impondo toque de recolher e a qualquer momento pessoas envolvidas na revolta legitima da população podem ser pressas. Por volta da 18h, chegou um grupo de policiais vindo da capital e cidades adjacentes para reforça a "segurança" na cidade. Mas o prefeito que desviou milhões de reais da educação e saúde está solto e concedendo entrevista a varias redes de televisão da capital, esse é o país em que vivemos em que os verdadeiros culpados pelo o caos social em que estamos nunca são punidos ou na verdade o único punido é a população que fica sem saúde, educação enfim todas as mazelas impostas pela corrupção.

Revolta contra corrupção em curralinho


Hoje por volta das 12h, a câmara municipal da cidade de Curralinho foi destruída pela população do município revoltada contra a não cassação do prefeito acusado de desviar milhões de reais de receitas públicas, o mesmo foi denunciado pela controladoria geral da união e também por uma canal de televisão a nível nacional.

A votação na câmara aconteceu da seguinte maneira, votaram contra a abertura da comissão parlamentar de inquérito para investigar o desvio de recursos pelo prefeito Miguel Santa Maria (PSDB), os vereadores Helóy Azevedo (PSDB), Davi Quaresma (PSDB) e Walter Oeiras (PMDB), a favor foram os vereadores Ednaldo Ribeiro (PV) e Marcos Baratinha (PT). Janil Macêdo e Paulo de Paula, sendo os dois do (PTB)  abstiveram da votação.
Sendo o poder legislativo que tem a função de fiscalizar as ações do prefeito e legislar de acordo com os interesses do município, mas isso não ocorreu em curralinho o interesse público foi deixado em segundo plano e prevaleceu os interesses das elites locais que exploram uma das regiões mais pobre do Brasil.

quinta-feira, 24 de março de 2011

NOTA AO POVO PARAENSE

Em defesa da ética na política e do mandato popular de Marinor Brito (PSOL)

O Supremo Tribunal Federal (STF), em flagrante dissonância com os anseios populares, derrubou ontem (23), por 6 votos a 5, a Lei da Ficha Limpa. Com vagos discursos de “moralidade e probidade” a decisão do STF pode trazer novamente à vida política nacional, corruptos condenados e raposas que há muito deveriam ter sido expurgadas do cenário político paraense e brasileiro.

Moral e ética não tem prazo de validade. O povo brasileiro, numa memorável jornada cívica, propôs a lei da Ficha Limpa, está indignado com o fato do STF ter virado as costas à vontade popular. A justiça se revelou injusta. O relator do processo, ministro Gilmar Mendes, famoso por libertar o mega criminoso e banqueiro Daniel Dantas, foi o relator do processo que possibilitou a queda da Ficha Limpa.

Essa decisão é um evidente retrocesso e um estímulo à impunidade. O povo brasileiro tem pressa sim. Pressa de saúde, de segurança, de educação, de ética, de acabar com a corrupção. A decisão do STF pode significar a perda de mandato da senadora Marinor Brito do PSOL-PA e o retorno de Jader Barbalho ao Senado nacional. Não há argumento que justifique esse passo em direção ao passado. A luta agora continua nas ruas.

O PSOL se solidariza com a Senadora Marinor Brito, que nestes poucos meses mostrou competência, determinação e coerência. Seu mandato, construído na luta popular, nos orgulha a todos e seguirá servindo de referência a todos os socialistas em todo o país. O PSOL conclama a sociedade brasileira, homens e mulheres de bem, especialmente os movimentos sociais, para uma luta de resistência e de denúncia diante deste atentado contra os legítimos anseios pela imediata moralização da política brasileira.

Endossamos, integralmente, as corajosas palavras da companheira Marinor, na tribuna do Senado: “Custe o que custar, querendo ou não a justiça, nossas vozes não se calarão. O povo brasileiro vai continuar tentando varrer os corruptos da política.”

Belém, 24 de março de 2011
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE – PSOL – DIRETÓRIO ESTADUAL DO PARÁ

segunda-feira, 21 de março de 2011

TODO APOIO A JUSTA REBELIÃO DOS OPERÁRIOS DA USINA JIRAU- LIGA OPERARIA

Humilhações e regime de escravidão nos canteiros de obras causa a justa revolta dos operários.

A Liga Operária e o Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Belo Horizonte (Marreta) manifestamos nosso integral apoio a justa rebelião dos operários do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia. É justa a revolta destes companheiros trabalhadores, cuja maioria são aliciados nas cidades do interior, em vários estados do Brasil, principalmente do nordeste, com promessas de bons salários e de excelentes condições de vida e de trabalho para depois serem superexplorados, jogados em alojamentos precários em verdadeiro regime de escravidão e sofrerem todo tipo de humilhações no canteiro de obras da empreiteira Camargo Corrêa e outras gananciosas “gatas”.
As revoltas operárias se sucedem
No mês passado, por esses mesmos motivos, explodiu em Pernambuco, no complexo portuário de Suape, uma grande rebelião dos operários, cuja bárbara repressão causou a morte de um operário e outro trabalhador foi atingido com um tiro no rosto, disparado por um dos seguranças do sindicato pelego à serviço da empreiteira Odebrecht. 
Essas rebeliões são o mais clamoroso exemplo de toda falsidade das repetidas propagandas de que a vida dos trabalhadores esta melhorando e da enorme disposição de luta dos operários.
Com apoio do governo, empreiteiras chupam o sangue dos trabalhadores
A construção do porto de Suape, assim como a obra da usina Jirau e todas outras grandes obras construídas com recursos do PAC, são palco de todo tipo de irregularidades trabalhistas. Essas obras são a demonstração de como as empreiteiras maltratam os trabalhadores e tem a total cobertura do governo para sub-empreitar os serviços, roubar os direitos trabalhistas além de torturar os operários com excesso de jornada de trabalho, roubo das horas extras, más condições de trabalho que geram acidentes com mortes e mutilações, alojamentos precários, comida estragada, etc.
A Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, entre outras grandes empreiteiras foram as principais doadoras da campanha eleitoral presidencial. Doaram milhões para Dilma e Serra, para assim ganharem todas concorrências, usufruir de lucros exorbitantes e ter todo tipo de facilidades para enricar cada vez mais e tirar o couro e o sangue dos trabalhadores.
Abaixo a repressão. Liberdade de expressão para os operários!
Repudiamos a atitude fascista do Secretário de Segurança de Rondônia que taxou de vandalismo a justa revolta dos trabalhadores de Jirau e clamou pela repressão do Exército, ABIN, PF, e todo tipo de aparato repressivo. Repudiamos a covardia da Camargo Corrêa e do governo de mandar a polícia invadir os alojamentos de madrugada, agredindo e jogando spray de pimenta nos trabalhadores pais de famílias que estavam dormindo.  Exigimos o respeito a integridade dos trabalhadores, alojamento e alimentação decentes e esclarecimento sobre trabalhadores feridos. Repudiamos a atitude canalha da direção sindical que ao invés de defender os operários fez côro com a reação e a polícia. Repudiamos também o silêncio das centrais sindicais safadas, pelegas e governistas.
Saudamos a coragem dos trabalhadores de Jirau e convocamos a todos democratas e trabalhadores brasileiros a apoiar decididamente a justa luta dos operários explorados.
Exigimos a imediata libertação de todos trabalhadores presos!
Exigimos o atendimento de todas reivindicações dos operários da usina Jirau!
Punição para a construtora Camargo Correa e suas sub-empreiteiras!

Viva a luta operária classista e combativa!
 Fonte: News Rondônia 

Revolta em Jirau.

Da reportagem do TUDORONDONIA Porto Velho, Rondônia - Diferente do que informa a empresa Camargo Corrêa, o clima ainda é tenso no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, a 100 Km de Porto Velho. Na manhã desta quinta-feira, centenas de funcionários se aglomeravam na entrada da usina, enquanto no canteiro permaneciam apenas os que estão alojados. Surgiu a informação de que novos protestos poderiam ocorrer.
Na terça-feira, cerca de trezentos trabalhadores atearam fogo em 45 ônibus e queimaram também várias instalações da usina. O estopim do protesto foi a troca de agressões entre um operário e um motorista de ônibus, mas o clima de insatisfação dos trabalhadores é antigo. A empresa é acusada de cortar horas extras e não dar condições decentes de trabalho.
Cerca de  trinta pessoas foram ouvidas pela polícia no inquérito que investiga o quebra-quebra em Jirau. Pelo menos 18 mil pessoas trabalham em Jirau atualmente. Há notícias de que, durante o tumulto, houve roubos de pertences pessoais nos alojamentos.
PROVEITO POLÍTICO
O governador Confúcio Moura (PMDB), considerado fraco, vacilante  e sem iniciativa,  tentou tirar proveito do episódio, querendo mostrar firmeza,  e postou em seu blog que a polícia agiu com rigor para conter os protestos, o que é desmentido por pessoas que testemunharam o caso e relataram que a PM chegou ao canteiro horas depois e evitou entrar ,temendo os manifestantes. As imagens do conflito também desmentem o governador. Mostram um teatro de guerra, como dezenas de veículos e instalações incinerados.
O secretário de Segurança Pública de Rondônia, Marcelo Bessa, segundo o site G1, falou em apelar para a Força Nacional de Segurança.

Fotos: Mique Pinto / Rondoniaovivo

sábado, 19 de março de 2011

Polícia reprime com violência protesto contra Obama no Rio de Janeiro

  Na tarde de ontem (18) manifestantes protestaram contra a visita que Obama faz nestes dias ao Rio de Janeiro com intuito de aprofundar a rapina sobre o Brasil, com atenções muito especiais para o petróleo. Foram centos de pessoas contra a visita do líder imperial americano. Houve protestos também em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Porém, a Polícia Militar reprimiu violentamente a concentração. O ato foi convocado pela CSP-Conlutas, pela Assembleia Nacional dos Estudantes-Livre - ANEL e por diversos sindicatos.                                                                                                        O protesto fazia parte de uma jornada nacional, que incluia atos em outras cidades e tem como objetivo denunciar a visita de Obama, a entrega do petróleo e os acordos de livre comércio  com o governo brasileiro. Também pretendia apoiar a revolução árabe e denunciar os ataques do imperialismo aos povos do mundo que agora têm como cenário a Líbia.
Polícia tentou evitar protesto
Segundo denúncia o PSTU em comunicado de imprensa, a polícia teve intenções muito claras desde o começo: desde as 16h, horário marcado para a concentração, os policiais demonstravam que não tolerariam o protesto. Chegaram a impedir a entrada de um carro de som na Candelária e não queriam deixar que a caminhada seguisse pela Av. Rio Branco. Apenas depois de uma longa negociação, de quase duas horas, a passeata pôde deixar a Candelária. No momento, já somavam 400 pessoas, segundo o comunicado do PSTU. A passeata foi aplaudida ao longo da Av. Rio Branco, demonstrando que o apoio à visita não é unâmime.                                                                                                          Segundo a mesma fonte, o acordo com o comando policial previa que a passeata seguiria até o Consulado dos EUA, onde seria feito apenas um ato simbólico, seguindo até a Cinelândia. O objetivo era ocupar a praça, símbolo de resistência à ditadura militar, e que Obama tentou usar agora como palco para seu discurso. O presidente do dos EUA já cancelou o dito discurso público, que terá um caráter fechado.                                                                                                                                                        Em frente ao Consulado, o ato da tarde de ontem iniciou com discursos, palavras de ordem. Simbolicamente, sapatos foram atirados contra uma bandeira dos Estados Unidos, repetindo um gesto comum nas revoltas árabes.                                                                                                                                    No momento em que estavam reunidos em um grande círculo, os manifestantes e os jornalistas escutaram uma explosão ao fundo e foram surpreendidos com o avanço da polícia, que atacou com cassetetes, atirou com balas de borracha e lançou bombas de gás e depois perseguiu os manifestantes pelas ruas vizinhas. O video que acompanha estas informações foi gravado por manifestantes e recolhe o momento. Dezenas de pessoas ficaram feridas e entre 12 e 15 manifestantes foram presos. Entre eles, um estudante, menor de idade, .que pela lei não poderia estar numa delegacia policial. Até as 22h, ninguém havia sido solto.
Polícia fala de coqueteis molotov, mas não dá provas sérias
A polícia justificou a sua agressão com o alegado lançamento de contra os policiais, atingindo um segurança do Consulado. A respeito disso, o PSTU aponta no seu comunicado que "o espírito pacífico era compartilhado pelos manifestantes. Entendemos que transformar a passeata em uma batalha apenas favoreceria o imperialismo, evitando que se discuta as verdadeiras intenções da visita." Desde o PSTU avalia-se a possibilidade de que provocadores fossem infiltrados na manifestação para justificar o ataque policial. Contudo, é importante salientar que as melhores provas que a polícia conseguiu apresentar foram uma garrafa de cerveja que teria sido usada como parte de um coquetel molotov e um soco inglês. Grande seriedade nas provas. Ainda, para que a imprensa fotografasse, foi colocada uma bandeira e um cartaz do PSTU.
Reação desproporcionada
Mesmo se produzindo o alegado lançamento de arfetactos, a reação polícia do governador Sérgio Cabral foi completamente desproporcional. Após a violência incial, selvageria se seguiu por várias horas, com policiais perseguindo manifestantes pelas ruas próximas a Cinelândia, revistando e prendendo sem provas. Segundo Márcia Lopes, do PSTU do Rio, após a confusão, cerca de 150 pessoas foram colocadas sentadas na Candelária para serem revistadas. Entre 12 e 15 manifestantes foram pres@s na ação e até as 22h, ninguém havia sido solto. O PSTU exigiu no seu comunicado "uma investigação e uma resposta do governador Sergio Cabral e de seus secretários de Segurança e de Direitos Humanos sobre os fatos desta sexta-feira. Imediatamente, exigimos a libertação de todos os presos, principalmente o menor de idade, que, pela lei, não poderia estar em uma delegacia policial."
Domingo mais protestos
Após a repressão da sexta-feira para invisibilizar a oposição à visita do presidente ianque, @s manifestantes não vão ficar calad@s. Domingo, dia 20, haverá um ato de protesto no Largo do Machado, a partir das 10 horas, segundo informam as entidades organizadoras.

Fonte: Diario da liberdade

sexta-feira, 18 de março de 2011

A hipocrisia da classe média

             
Por Ari de Oliveira Zenha
“Para os trabalhadores a verdade é uma arma portadora da vitória e o é tanto mais quanto mais audaciosa for.”
Georg Lukács
A classe média tem desempenhado historicamente um papel importante dentro do sistema capitalista. Como o próprio termo diz média, intermediária, entre dois pólos, atua como uma espécie de amortecedor e alavancador do sistema produtivo do capital, isto política, social e economicamente.
Foi com o advento do capital e sua consolidação como sistema produtivo que esta classe foi adquirindo importância e amplitude.
A formação política da classe média, e isto, falando de forma ampla, é extremamente conservadora e reacionária. Seu projeto de existir, de viver, de agir, de atuar, apesar de ter uma diretriz, um rumo, um objetivo, é conflituoso enquanto classe em si e para si. Este conflito se manifesta em todos os níveis da existência humana. Ao se tornar uma classe para si, ela teve que optar por um projeto político e econômico, e, abraçou o capital como o seu provedor político, econômico e social.
Posicionando dentro deste espectro amplo do sistema econômico capitalista a classe média teve seu apogeu, principalmente nos países desenvolvidos, nas décadas de cinqüenta e sessenta, depois disso tem entrado em um processo de decadência e degeneração incrível. A degeneração da classe média está clara hoje no mundo globalizado do capitalismo. Em toda a parte do planeta esta classe tem apresentado traços, que poderíamos dizer: patológico, alienante, egoísta, cultuando o corpo pelo corpo, o viver pelo viver, o medo doentio é sua marca registrada, pois ao abraçar o sistema capitalista decadente ela absorveu e tem absorvido todo o modus degradante que é inerente deste sistema.
O existir da classe média dentro do capital é viver no inferno pensando no paraíso prometido pelo capital.
A decadência globalizada do capitalismo atualmente, leva consigo não só a classe média, mas todo o nosso planeta. Como classe este aglomerado de seres humanos, sem projeto próprio, perdido entre a burguesia e os trabalhadores, procura refúgio nas formas avançadas do processo tecnológico que o capital oferece e no seu deleite consumista. Falar em classe para este aglomerado humano no sentido clássico dado a ele pelo materialismo histórico  é forçar um pouco as coisas, mas devido à importância que ela teve e ainda tem como formadora de opinião e como força política que é, não seria muito incorreto tratá-la como classe, sabendo de antemão destes limites teóricos, históricos e reais.
Perdida que está, dilacerada no âmago do seu ser, a classe média tenta, de todas as formas lutar, e se debate entre sua extinção como classe pelo capital e como força política hoje, tomando, a força, consciência da iniqüidade do capital e dos seus limites enquanto classe, sem projeto e vida própria que na realidade sempre foi isto que a caracterizou e caracteriza.
Sem vida própria, a classe média não é mais que um aglomerado numeroso de seres humanos, lutando desbragadamente a procura da tão falada felicidade do capitalismo e o seu temor de se proletarizar, envolta no desemprego crônico, na insegurança, no medo e no eterno conflito político/econômico histórico que a caracteriza enquanto classe. Abraçar a transformação da sociedade ou tornar-se de fato uma força política contrária aos interesses da sobrevivência digna do ser humano neste planeta é um dos seus dilemas.
Classe média, aglomerado de milhões de seres humanos perdidos diante da avalanche destruidora do capital, é diante desta realidade que a classe média se encontra. Abraçar a transformação pelo socialismo-democrático-popular ou enterrar-se na destruição do planeta que o capital está impondo ao mundo todo, este, enfim, é o seu dilema que a mortifica!
Será...?! 


Ari de Oliveira Zenha é economista

TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE BREVES FAZEM PARALISAÇÃO E PCCR É ENCAMINHADA À CÂMARA MUNICIPAL

   Depois de ter deflagrado o ESTADO DE GREVE, os Trabalhadores emEducação do Município de Breves resolveram paralisar suas atividades por um dia e realizaram grande Ato Público em frente ao prédio da Câmara Municipal, no dia 15/03, para exigir a entrega do projeto de lei que dispõe sobre o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração dos Trabalhadores em Educação Pública do Município. A ação rendeu resultados positivos, pois às 11 horas a proposta de PCCR discutida por uma comissão que contou com a participação de representantes do SINTEPP foi entregue ao Poder Legislativo pelo Secretário Municipal de Educação. Durante a entrega foi realizada uma audiência com a presidente da Casa e alguns vereadores para discutirem os procedimentos regimentais necessários para a aprovação da lei.
Durante a audiência os vereadores se comprometeram em preservar a essência do projeto de lei e fazerem apenas ajustes mínimos que não afetem as propostas discutidas no seio da categoria e, também se responsabilizaram em manter um canal direto de debate com o SINTEPP e os Conselhos da Educação e do Fundeb para dirimirem quaisquer questões resultantes do projeto de lei.
 Mais uma vez se demonstrou a força e o poder da nossa categoria, que não se rende ou se curva diante das dificuldades e das barreiras impostas, mas vai à luta sempre, rumo à novas conquistas. Parabéns Trabalhadores em Educação de Breves. O PCCR é nosso!
  

Fabio Paes
Coordenador Regional do SINTEPP/Marajó

Para maiores informações acesse: www.sintepp.org.br

terça-feira, 15 de março de 2011

Ocupação de estudantes já dura 12 dias na Unicamp

Cerca de 100 estudantes ligados ao Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, ocupam há 12 dias o prédio administrativo do Programa de Moradia Estudantil.

Os estudantes exigem moradia digna e lembram que a luta envolve toda a sociedade, já que a falta deste direito faz com que alunos com baixa renda deixem de seguir nos cursos.
Um universitário presente ao protesto disse que as políticas de cotas para negros e estudantes de escolas públicas são um motivo a mais para que o governo se comprometa com políticas de permanência dos estudantes na universidade. O estudante pediu para não ser identificado. Ele afirma que os manifestantes estão sendo ameaçados com retaliações por parte da reitoria.
O estopim para a ocupação foi a expulsão de um aluno que morava no campus sem a permissão da reitoria. Na ocasião, a polícia militar foi chamada para a reintegração de posse. Os estudantes justificam dizendo que, com a falta de vagas, é comum que estudantes sejam acolhidos por colegas. 
A Unicamp lançou hoje uma nota pública criticando a ocupação. A universidade garante que nenhum estudante com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo teve vaga negada na moradia. Também qualificam o movimento como “injustificável” e composto por “um grupo minoritário”.
Os manifestantes rebatem. Lembram que são parte do órgão legítimo de representação estudantil. Garantem que a intenção é chegar a uma solução negociada e relatam que a tensão vem aumentando desde o ano passado. Afirmam que estudantes com filhos maiores de 7 anos têm sido despejadas e que decisões com respaldo dos alunos nos conselhos da universidade não estão sendo cumpridas.
Na semana passada, o juiz Mauro Iuji Fukumoto, da comarca de Campinas, negou o pedido de reintegração de posse da administração da Moradia Estudantil. Ele avalia que o protesto é válido e garantido por artigos da Constituição Federal.
Os alojamentos da Unicamp foram criados em 1988 após protestos estudantis. Na época, foi feito acordo para construção de vagas para 10% dos estudantes. Seriam 1.500 vagas, mas apenas 900 foram construídas. Hoje, seguindo o mesmo acordo, os alunos exigem a abertura de 3.300 vagas. Em 20 anos, o número de estudantes mais que duplicou na universidade.
Para saber mais sobre a ocupação, acesse: ocupacaomoradiaunicamp.blogspot.com. Moradores de Campinas também podem ouvir as transmissões da Rádio Buda, emissora livre coordenada pelos estudantes. (pulsar)

Situação em Fukushima é apocalíptica, diz especialista europeu

O comissário europeu para a Energia, Gunther Oettinger, disse nesta terça-feira (15) em uma audição no parlamento europeu, em Bruxelas, que a situação na usina nuclear de Fukushima, no Japão, é "apocalíptica".

"Falamos de um apocalipse e a palavra é bem escolhida. Na prática, a situação está fora de controle" afirmou Oettinger no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Na manhã desta terça-feira (horário local, noite de segunda-feira no Brasil) uma explosão na área do reator 2 e um incêndio na do reator 4 da usina aumentaram o temor de uma catástrofe nuclear na região se o superaquecimento da usina não for contido e ocorrer vazamento de elementos radioativos para o meio ambiente.

Japão proibe voos

As autoridades japonesas proibiram voos sobre a área onde está localizada a usina de Fukushima. De acordo com a Agência Kyodo, a radiação está em nível 33 vezes superior ao permitido em Utsunomiya, capital da província de Tochigi, zona norte de Tóquio.

Os níveis de radiação em Kanagawa, ao sul de Utsunomiya, eram, por sua vez, nove vezes superior ao recomendado. O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, disse que os níveis de radiação aumentaram significativamente depois da explosão em Fukushima, onde quatro dos reatores da central nuclear já sofreram problemas.

O porta-voz do governo do Japão, Yukio Edano, ressaltou que o nível da radiação chegou a ser 100 vezes superior ao limite no reator 4, enquanto no reator 3 os níveis eram 400 vezes superiores. Segundo ele, se forem mantidos os níveis de radiação, eles podem ser prejudiciais à saúde humana. Apenas 50, dos 800 funcionários da Central de Fukushima, permanecem no complexo.

A Tokyo Electric Power (Tepco), que gere a central, não exclui fusões dos núcleos dos reatores 1, 2 e 3, mas garante que o reator 4 não estava em funcionamento por ocasião do incêndio que afetou o edifício na manhã (hora local) desta terça.

ONU monitora usina

A ONU declarou que está monitorando a dispersão do material radioativo libertado para a atmosfera pela central nuclear por meio da Organização Metereológica Mundial (OMM).

Michel Jarraud, diretor da OMM, disse que a ação é acompanhada pelos centros regionais da agência no Japão, China e Rússia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, OMS, a exposição a altos níveis de radioactividade ameaça a saúde pública. As autoridades japonesas informaram que 23 pessoas estão sendo descontaminadas, após 150 moradores da área monitorados pelas autoridades japonesas. A evacuação dentro dos 20 km da região continua.

AIEA minimiza

Yukiya Amano, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) das Nações Unidas, informou nesta terça-feira que o reator 2 da usina nuclear de Fukushima pode ter sofrido danos moderados em consequência do terremoto da última sexta-feira, no Japão. 

Segundo Amano, os danos são estimados em 5%. Ele afirmou que a crise na central nuclear japonesa é preocupante, ao mesmo tempo que comparava com a tragédia de Chernobil (1986), ressaltando as diferenças entre os dois desastres.

Com agências

Os desastres japoneses

Os desastres japoneses
Não podemos atribuir nem à ação divina nem à ação humana os movimentos das placas tectônicas na costa de Honshu. Mas pode acontecer que a pior parte deste desastre seja causada pelas mãos do homem. Quando alguns seres humanos, em sua busca por lucro e prosperidade, lidam com o meio ambiente de maneira estúpida, nós realmente devemos responsabilizá-los.


Por Gary Leupp


[15 de março de 2011 - 16h44]
Apelidada Mori no miyako, “a capital florestada”. Ou talvez nós pudéssemos chamá-la – Sendai – a “Kyoto da Floresta”. O castelo do Lord Date Masamune, construído no século XVII, é chamado de Aoba-jo ou “Castelho das Folhas Verdes” e a principal rua do vilarejo do castelo é chamada Avenida das Folhas Verdes. Quando eu estive lá durante uma semana em 1986 – uma visita prolongada em função dos tufões que impediam viagens ferroviárias – fui pego de surpresa pelo verde que tanto falta na maioria das cidades japonesas, regado pelo Rio Hirose. Eu me apaixonei pelo lugar, comparável em alguns aspectos a Sapporo, onde conheci minha esposa.
Eu sempre associarei, como o fazem muitos japoneses, Sendai com a canção Aobajo koi uta, um canto lamurioso que começa com este verso tão representativo da arte japonesa, a qual sempre encontra uma beleza mordaz na efemeridade da vida:
“Hirosegawa nagareru kishibe
Omoide wa kaerazu
Hayase odoru hikari ni
Yureteita kimi no hitomi
Toki wa meguri
Mata natsu ga kite
Ano hi to onaji nagare no kishi
Seoto yukashiki
Mori no miyako
Ano hito wa mo inai”
“À margem do corrente Rio Hirose
Recordo-me do que não retornará.
No esplendor dançante das corredeiras
Vejo seus olhos transbordando em lágrimas.
O tempo vai.
O verão vem novamente.
Como naquele dia nas corredeiras entre as margens
O agradável som das corredeiras
Nesta cidade madeirada.
Esta pessoa não existe mais”
Eu me pergunto se Sendai ainda existe. “Muitas áreas da cidade”, de acordo com a CNN, “simplesmente sumiram – lama e destroços habitando agora uma área onde antes existia uma fileira de casas; um veículo de cabeça para baixo entre os galhos de árvore. Uma escola, com 450 pessoas dentro quando o tsunami a atingiu, permaneceu de pé com suas portas arrombadas e uma confusão de mobília – além de um caminhão – em seus corredores. Alguns professores e estudantes conseguiram escapar do prédio, mas as autoridades dizem que outros não tiveram a mesma sorte”.
Localizada somente a 100 milhas a oeste do epicentro do terremoto de sexta-feira, Sendai sofreu mais dano do que qualquer outra grande cidade japonesa. Refere-se ao bairro de Futaki como “marco zero” do desastre. Sendai, no distrito de Miyagi, é a mais populosa cidade na vasta região Nordeste. Havia uma população de um milhão de pessoas antes do tremor e do tsunami por ele iniciado. Acredita-se que a cidade de pescaria próxima, Minamisanriku, tenha perdido cerca de 10 mil dos seus 17 mil moradores. Kasennuma, também em Miyagi, uma cidade de 74 mil habitantes, está totalmente submersa. Cidades e vilarejos inteiros foram arrastados para o mar. O número oficial de mortes permanece relativamente baixo, em cerca de 10 mil, mas o número de desaparecidos é gigantesco. Quantos Sendai terá perdido?
Primeiro houve o tremor violento, que durou mais de três minutos. Enquanto o tremor começava, as pessoas devem ter pensado, “Preciso desligar o gás”. Qualquer criança de primário sabe disso. Em seguida: “Preocupar-me com um tsunami”.
Mas não houve tempo. Dentro de minutos, as casas pegavam fogo, e o nível do mar caiu dramaticamente, só para se erguer ferozmente. A parede de água atacou a cidade, submergindo as copas das árvores, e inundou praticamente toda Tohoku, costa do Pacífico. A pista de pouso do aeroporto de Sendai foi inundada. Destroços da cidade ardiam noite adentro enquanto os alarmes de incêndio permaneciam intocados, impossíveis de serem alcançados através das ruas inundadas. A tempestade perfeita de fogo e água, uma catástrofe de proporções bíblicas. Uma tempestade de neve tornou a vida ainda mais miserável para aqueles sem abrigos.
Ao longo da costa a polícia encontrou corpos de 200, 300 pessoas que foram arrastadas para o mar, e depois retornaram à praia. Este foi O Grande – não somente o maior em 140 anos de registros científicos, mas provavelmente dos últimos 1500 anos. E ainda não acabou; tremores secundários de magnitude 6 ou mais continuam acontecendo nas últimas horas.
Eu me compadeço pelo Japão, onde passei seis anos. O terremoto de sexta-feira impactou uma grande parte do país. Minha sogra em Sapporo, na ilha Hokkaido, a norte, sem dúvida sentiu o impacto. Ela disse à minha esposa (que só conseguiu falar com ela na terceira tentativa, tendo em vista que várias linhas de telefone haviam caído), que ela pensou ser só mais um tremor rotineiro. (Na verdade, ele teve uma magnitude 6.8 em Sapporo). Ela estava assistindo TV no momento e viu que um terremoto tinha atingido Tóquio, mais de 500 milha a sul. Que estranha coincidência, ela pensou, que estejam acontecendo tremores em Sapporo e Tóquio ao mesmo tempo. Ela não se deu contra de que eram todos o mesmo terremoto, o qual foi de fato sentido tão longe quanto Pequim.
Como a maioria dos japoneses, minha sogra tem uma atitude bastante realista quanto a terremotos. Eles sãoshikataganai koto, algo sobre o qual nada se pode fazer. Deve-se, então, lidar com eles racionalmente (até mesmo quando usa para explicá-los referências ao Deus dos terremotos, Nai no kami, ou o lendário bagre gigantes Namazu, que vive nas profundezas do oceano e se debate violentamente quando não contido).
Ela acredita que os terremotos são a punição divina ao Japão pela corrupção política e pelo sectarismo. Mas a religiosidade e o fatalismo desta forte e brava senhora de 78 anos de idade coexistem com uma enorme praticidade.
Sua casa moderna e pré-fabricada é programada para que, caso haja um tremor, os armários da cozinha se tranquem automaticamente para que a louça não caia. E o aquecedor é desligado. Ela está tranquila, como está a maioria dos japoneses quando se trata de terremotos. Mas este não foi um terremoto normal.
Eu lamento por todo o país, mas por Sendai especificamente – Sendai com seu dialeto único que para mim foi incompreensível, Sendai com suas mulheres excepcionalmente belas, Sendai com sua rica história. A elite dos samurais da era Date foram, durante algum tempo, aliados das missões Católicas Romanas, protegendo-os até mesmo quando o poder central perseguiu os cristãos. Nos anos de 1610, Date Masamune mandou emissários ao Vaticano para estabelecer ligações; eles viajaram através do Pacífico até o México e depois logo em seguida através do Atlântico. (Em 1617, sete dos samurais membros da missão decidiram não retornar para casa, e se instalaram numa vila próxima a Sevilha, onde hoje centenas de pessoas têm o sobrenome “Japon”).
Os enviados retornaram com cartas, pinturas e mapas, preservados no Museu da Cidade de Sendai. Ao menos, espero que estejam. E espero que o monumento ao grande escritor chinês Lu Xun, que estudou na cidade de 1904 a 1906, não tenha sido danificado.
Os japoneses conhecem Sendai como o lar da Universidade de Tohoku, uma das melhores universidades públicas do país. Eles também sabem do Festival Tanabata, que acontece na cidade no inicio de Agosto, todos os anos. A população vibra ao ver metade da população de Tohoku se juntar para celebrar o mito chinês do amor da Princesa Tecelã (a estrela Vega) e do Vaqueiro (a estrela Altair). O pai da princesa, uma divindade muito poderosa, presidindo sobre a Via Láctea, permite que ela conheça e se case com o vaqueiro. Mas ele logo se enfurece quando ela negligencia seus deveres de tecelã da seda e permite que o gado entre no céu. Ele então os separou, permitindo somente que se encontrem uma vez por ano, quando, com a ajuda de algumas aves, a princesa cruza uma ponte celestial para encontrar seu marido.
O festival de agosto, celebrando esta relação divina, é marcado pela exibição de inúmeras decorações pela cidade, shows espetaculares de fogos de artifício, danças e outros eventos. Pense no festival como um Mardi Gras subjugado, e a Sendai inundada como Nova Orleans depois do furacão. Conseguirá o festival, celebrando a persistência do amor sob as mais desfavoráveis circunstâncias, sobreviver?
A despeito da opinião da minha sogra, não podemos atribuir nem à ação divina nem à ação humana os movimentos das placas tectônicas na costa de Honshu. É simplesmente – shikataganai – como as coisas acontecem no nosso jovem e vigoroso planeta. Mas pode acontecer que a pior parte deste desastre seja causada pelas mãos do homem. Quando alguns seres humanos, em sua busca por lucro e prosperidade, lidam com o meio ambiente de maneira estúpida, nós realmente devemos responsabilizá-los.
Um terço do suprimento de energia do Japão provém de reatores nucleares. Eles estão localizados, em sua maioria, na fina faixa costeira de terra onde a maioria dos japoneses vive, e vulnerável a inevitáveis cataclismas. Quando um terremoto ou erupção vulcânica interrompe o suprimento de energia necessário para bombear a água que esfria o reator, pode haver uma enorme fusão e vazamento de doses letais de radiação. O desastre de Chernobyl de 1986, pelo que se sabe, produziu muitos milhares de mortes por câncer em adição àquelas 57 mortes imediatas por exposição à radiação.
O que acontece se – como agora parece bastante provável – as usinas de energia Dai-ichi e Dai-ni, localizadas na costa de Sendai no distrito de Fukushima, entrarem em colapso? Nós diríamos shikataganai? Ou nós exigimos as cabeças dos financiadores, políticos e donos de corporações que fizeram isto acontecer? Há anos as pesquisas de opinião pública demonstram uma pluralidade de japoneses contrários à energia nuclear. Uma pesquisa de 1999 daAsahi Shinbun mostrou 45% dos japoneses contrários à energia nuclear, com somente 32% apoiando a iniciativa. Em 1996 metade do eleitorado do distrito de Mie tomou posição contra a construção de uma usina nuclear. Mas como mostrou um estudo de opinião pública e energia nuclear no Japão publicado pela Universidade Rice em 2000, uma minoria alegou que a energia nuclear era a chave para a independência energética do Japão. “Estas visões permitiram às autoridades não levar em conta os protestos, entendendo-os como uma ansiedade econômica e egoísta em curto prazo. Eles efetivamente usaram de recompensas financeiras e compensações para amortecer o descontentamento. Pouca atenção foi dada à legitimidade da preocupação pública com segurança”.
Apesar da oposição pública, e a ocorrência de acidentes de nível 2, 3, e 4 (em 1995, 1997, e em 1999 respectivamente), a confiança na energia nuclear aumentou. Em 1990, 9% da eletricidade do Japão era gerada por usinas nucleares, enquanto em 2000 aumentou para 32%.
No filme de 1990, Yume (“Sonhos”), de Akira Kurosawa, baseado nos sonhos do próprio cineasta, há um pequeno curta metragem chamado “Mt. Fuji em Vermelho”. No pesadelo, as pessoas estão fugindo de um terremoto através de uma ponte. Vários deles – uma mulher e suas duas crianças, um homem de terno e um homem em roupas casuais – param para olhar o Mt. Fuji, se dando conta, horrorizados, de que ele está em erupção (isto é perfeitamente concebível. Sua última erupção foi em 1707 e ele entrou em erupção por volta de 75 vezes nos últimos 2.200 anos). Uma enorme nuvem radioativa vermelha aparece no horizonte enquanto imensas colunas de chamas envolvem o monte. O homem de terno percebe que o Monte é cercado por seis usinas atômicas. Eles fogem, mas o homem de terno diz que pelo fato de o Japão ser pequeno, não há escapatória.
A cena corta para um penhasco deserto com detritos espalhados, com vista para o mar. O homem vestido casualmente pergunta aonde foram todas pessoas, e o outro homem diz a ele que todos saltaram na água. O homem então aponta para o céu e explica: “Aquele vermelho é plutônio 239. Uma 1/100.000.000 parte de um grama causa câncer. O amarelo é estrôncio 90. Ele entra em você e causa leucemia. O roxo é césio 137. Ele afeta a reprodução e causa mutações. Ele cria monstruosidades. A estupidez do homem é inacreditável. Radioatividade é invisível. Mas por causa dos seus perigos, eles a coloriram. Mas isso só faz com que você saiba que tipos te matam. O cartão de visita da morte”.
Ele então se curva educadamente, e diz “Osaki ni” (uma frase que literalmente significa “antes de você”), se volta para o penhasco, preparando-se para saltar ao mar. O outro homem tenta segurá-lo, dizendo que a radiação não mata ninguém imediatamente, ao que ouve a resposta “esperar para morrer não é viver”.
A mulher abraçada ao seu bebê chora, e diz “Eles nos disseram que energia nuclear era segura. Os acidentes humanos são o perigo, não a usina nuclear por si. Sem acidentes, sem perigo. Foi isso que eles nos disseram. Mentirosos! Se eles não forem enforcados por isso, eu mesma os matarei!”. O homem que está prestes a pular no mar diz a ela que a radiação os matará por ela. Ele novamente se curva, e confessa que ele é um dos que merece morrer. Ele então se joga do penhasco, e os ventos de radiação envolvem aqueles que ainda estavam vivos.
Terá sido o cenário deste pesadelo só um sonho ruim do grande diretor japonês? Autoridades japonesas reconhecem a possibilidade de uma calamidade ainda maior. O chefe de Gabinete Edano Yukio “assume a possibilidade de uma fusão” em um dos reatores de Fukushima. “Sob o risco de aumentar ainda mais a preocupação pública,” ele diz, “nós não podemos desconsiderar a possibilidade de uma explosão. Se houver uma explosão, no entanto, não haveria nenhum impacto significativo na saúde humana”.
Me lembra a mulher no filme: Não há perigo, Foi isso que eles nos disseram. Eu não quero prever o pior, sabendo tão pouco sobre energia nuclear. Mas obviamente não é segura, quando você tem que evacuar 180.000 de pessoas como precaução, quando trabalhadores têm que se sacrificar para prevenir desastres, e outros países apressam seus cidadãos a saírem do Japão, preocupados com a radiação desde o princípio. Há desde já uma influência significativa na saúde mental dos japoneses que sofrem de ansiedade ao pensarem em explosões ou vazamentos. Enquanto lamentamos os mortos, devemos, para o bem dos vivos, lutar por uma energia verde, segura e sustentável.
Gary Leupp é Professor de História na Universidade Tufts, e tem uma segunda nomeação no Departamento de Religião. Ele é o autor de: Servants, Shophands and Laborers in in the Cities of Tokugawa JapanMale Colors: The Construction of Homosexuality in Tokugawa Japan; e Interracial Intimacy in Japan: Western Men and Japanese Women, 1543-1900Ele é também um colaborador para as crônicas impiedosas do CounterPunch sobre as guerras do Iraque, Afeganistão e Iugoslávia.